A ética escalafobética do PT

O jornalista Eugênio Bucci constata: algo mudou na alma do povo.

Bucci usa como pano de fundo e fio condutor de sua terrível constatação a novela Vale Tudo, ora em exibição como remake da original. Na trama, a maldade encarnada, Odete Roitman, é assassinada, em uma espécie de catarse popular, em uma época em que matar o milionário mal era a solução simbólica de nossos problemas.

Hoje, algo teria mudado na alma do povo. Bucci arrisca dizer que um final mais popular para os dias atuais seria Odete assassinar alguém, e depois ser anistiada. Muito sutil. O professor da ECA não se conforma que o motoqueiro se identifique com Elon Musk, uma espécie de Odete Roitman americana. A alma do povo mudou porque o motoqueiro agora faz parte da “burguesia caquética”.

O curioso é que Bucci inicia seu artigo condenando o roteiro da novela em duros termos, no que seria uma “ética escalafobética de uma burguesia caquética”, ao fazer a identificação entre ricos e canalhice. Esse trecho não orna com o restante do artigo, a não ser que separemos os “ricos bons” dos “ricos maus”, que é o que parece fazer o articulista. Os “ricos bons”, provavelmente parceiros do jornalista em um bom vinho, não fariam parte da burguesia caquética. Esses não devem ser alvo do “nós contra eles” patrocinado pelo governo Lula.

A verdade é que nada mudou na alma do povo, continuamos querendo a vitória do bem sobre o mal. No entanto, de 1988 para cá, todos aqueles que prometeram o céu ao povo o que fizeram foi garantir a si mesmos o paraíso, deixando o povo no inferno. Vimos aqueles que batiam no peito como paladinos da moralidade, prometendo um outro mundo possível, se locupletarem quando chegaram ao poder. A alma do povo continua a mesma, só está desiludida.

Talvez Bucci fizesse um diagnóstico melhor se tirasse o foco da “alma do povo” e analisasse a ética escalafobética que comandou as ações dos governos petistas. O povo continua admirando as mesmas coisas. O que falta é um autodiagnóstico dessa “elite do bem”.