O dinheiro fala mais alto
Essa matéria é um resumo de outra maior, publicada pelo NYT, cujo título é “‘Make Greenland Great Again’? No Thank You, Greenlanders Say”. Aqui, a manchete foi trocada por “Preocupados, groenlandeses querem distância do modo de vida americano”. Claro, uma manchete que combina muito mais com o esquerdismo latino-americano, que tem mais ojeriza aos EUA do que a Trump em si. O NYT aproveita qualquer ocasião para vilanizar Trump. Já a imprensa brasileira aproveita qualquer ocasião para vilanizar os EUA.
A questão, obviamente, é muito mais complexa do que um “yankee go home”. A Economist publicou duas curtas reportagens a respeito do tema, a primeira sobre o que a Groenlândia significaria para os EUA e a segunda sobre o ponto de vista dos groenlandeses. Esta segunda é basicamente o que lemos nessa matéria do NYT/Estadão.
A questão é a seguinte: 43% dos groenlandeses trabalham para o Estado, que é sustentado, basicamente, pelo governo dinamarquês, que contribui com mais da metade do orçamento da ilha. Por isso, não é de se espantar que a enfermeira entrevistada não queira nem pensar em pagar por saúde ou educação. Afinal, a Dinamarca paga por tudo isso, em seu Estado de bem-estar social.
O problema é que há um movimento de independência. Os groenlandeses são muito orgulhosos de suas origens, e têm “ressentimentos” em relação àqueles que os sustentam. Mas, ao que tudo indica, a ilha de 56 mil habitantes não é autossustentável. Então, sempre vai precisar de um benfeitor.
A Economist fez um valuation rápido da ilha: considerando tudo o que os groenlandeses produzem, esse fluxo de caixa, trazido a valor presente pela taxa de juros dos títulos americanos, resultaria em algo como 50 bilhões de dólares, ou quase um milhão de dólares para cada um dos habitantes da ilha. Uma Groenlândia independente da Dinamarca significaria quase um milhão de dólares no bolso de cada groenlandês. É disso que estamos falando. A enfermeira toparia trocar “saúde e educação de graça” por um milhão de dólares? Por outro lado, a Dinamarca abriria mão de 50 bilhões de dólares, assim, sem mais?
Um morador pró-independência afirma que a ilha não está à venda. Talvez porque ainda não tenha visto o cheque. Nada como uma oferta que não se pode recusar.