A dispensável carta da misoginia
Hoje, as advogadas que escreveram o artigo sobre a suspeição de Moraes no chamado “julgamento do golpe” fazem a tréplica ao artigo-réplica de Kakay, que tive a oportunidade de comentar aqui há alguns dias.
No entanto, mesmo cobertas de razão no mérito da questão, as autoras preferem apontar a arrogância de Kakay (que não falta), e lançam mão do supertrunfo da misoginia. Algumas poucas linhas, e mesmo assim de passagem, são dedicadas aos sólidos argumentos que desmontam a frágil e intelectualmente desonesta tese de Kakay. O restante é um libelo pela força feminina, e quanto as mulheres incomodam quando atingem lugares de poder. A misoginia poderia até ser sugerida de passagem, como uma cereja do bolo, mas ao constituir-se no bolo todo, desloca a discussão para um campo subjetivo, em que Kakay pode simplesmente afirmar que as articulistas não têm argumentos jurídicos para rebater a sua réplica.
Não que a misoginia não seja uma realidade que afeta profissionais mulheres em todos os âmbitos da sociedade. Mas no caso específico do artigo de Kakay, a arrogância tem mais a ver com a falta de argumentos do que com o interlocutor. Infelizmente não temos o contrafactual, mas sou capaz de apostar que a réplica de Kakay seria exatamente a mesma fosse um homem o autor do artigo original.
A minha primeira reação ao ler essa tréplica, portanto, foi de decepção, ao constatar a oportunidade perdida para desossar Kakay em seu próprio campo. Mas depois senti uma satisfação contida. Não é sempre que vemos esses arautos da virtude sendo confrontados no campo moral. Ao menos esse prazer eu tive.